Shrinkflation: O Fenômeno da Reduflação

A inflação, que vem atingindo o mundo nos últimos tempos, aumentou o preço de tudo e afetou também grandes empresas. A indústria de alimentos precisou encontrar uma solução para o aumento dos custos de produção.
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Michel Jasper
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A chamada shrinkflation, conhecida em português como reduflação, tem causado estranhezas constantes nos consumidores em suas idas aos supermercados, um exemplo é a “dúzia de 10 ovos”.

Está se tornando muito comum ir ao supermercado comprar ovos e, ao chegar em casa, perceber que na bandeja não há mais 12 ovos, mas sim 10. Isso está sendo chamado de “dúzia de 10”. Obviamente, uma dúzia é 12, e se você prestar atenção, está escrito sobre a bandeja que tem 10; mas estamos há mais de décadas acostumados com bandejas de 12, essa troca repentina realmente engana. Lembrando que bandeja com 10 ovos não é novidade, começaram a aparecer no mercado em 2021, mas estão se tornando cada vez mais comuns, devido ao preço dos alimentos subirem constantemente. A famosa reduflação, um termo que mistura “redução” com “inflação”, vem ganhando destaque nas conversas sobre consumo e economia.

Essa prática, bastante adotada por fabricantes, envolve diminuir o tamanho ou a quantidade de um produto mantendo, ou até aumentando seu preço. No fundo, é uma maneira discreta de repassar o aumento dos custos de produção sem chocar tanto o consumidor com um aumento direto no preço. À primeira vista, pode parecer uma mudança pequena, mas quando somamos todos os produtos do carrinho de compras, o impacto no bolso do consumidor é significativo.

Esse fenômeno é uma estratégia da indústria para enfrentar a alta inflação, fazendo você pagar mais por menos sem perceber.

A inflação, que vem atingindo o mundo nos últimos tempos, aumentou o preço de tudo e afetou também grandes empresas. Enfrentando o preço elevado de matérias-primas, escassez, atrasos nos fornecimentos e mão de obra mais cara, a indústria de alimentos precisou encontrar uma solução para o aumento dos custos de produção.

Mas como fazer isso sem que o cliente notasse? Se um produto aumenta seu preço, você procura por outro mais barato, certo?

Sabendo disso, a solução das empresas foi diminuir a embalagem ou a quantidade de produto e manter o preço.

Um exemplo clássico é o papel higiênico. Você pode nem ter percebido, mas há anos os rolos estão diminuindo os metros de papel higiênico.

Quando os rolos ficaram tão pequenos que os consumidores começaram a perceber, as marcas começaram a lançar tamanhos mega ou rolos duplos, que se avaliados, eram o tamanho considerado normal alguns anos atrás.

O mesmo aconteceu com salgadinhos da PepsiCo, que estavam ficando tão pequenos que a companhia precisou lançar a versão tamanho-família de seus produtos.

As empresas utilizam qualquer desculpa para justificar ou encobrir essa redução. A IP, por exemplo, relançou seu sabão em barras com um novo formato, alegando que o novo modelo é mais anatômico e melhor de segurar. Mas será que essa não foi apenas uma estratégia para que o consumidor não percebesse que a quantidade foi diminuída em 100 gramas?

A situação do leite condensado causou revolta com a mistura láctea feita de leite, soro de leite e amido, vendida no setor de leite condensado com uma embalagem extremamente parecida com a do leite condensado. As barras de chocolate, que antes eram de 200 gramas, foram diminuindo gradualmente para o que hoje são 90 gramas, mas pouco da embalagem mudou.

Os sacos de salgadinhos e amendoins, cada vez mais cheios de ar, também exemplificam essa prática. O Ruffles, por exemplo, diminuiu 9,5% do seu produto, mas a embalagem continua a mesma. Já o salgadinho Torcida diminuiu 15,56%.

Outros exemplos incluem o sabão em pó que passou de 4 kg para 3,8 kg, a caixa de fósforos que passou de 240 fósforos para 200, o pacote de biscoitos que era de 200 gramas passou a oferecer 160 gramas, e o suco em pó que era 25 gramas e agora é 20 gramas. São mudanças pequenas, mas que enganam até o mais atento dos consumidores.

A ideia é que você vai preferir levar para casa algo um tiquinho menor do que pagar mais pelo mesmo produto de sempre. E olha só o que tá rolando nos mercados do Brasil: 🍪 Aquele biscoito de Maizena que você adora? De 200g caiu para 175g; 🍫 E o waffer da mesma marca?

Despencou de 160g para 100g; 🍅 Molhos de tomate também entraram na dança, indo de 340g para 300g; 🥤 E o suco em pó não ficou atrás, foi de 25g para 18g. Aliás, o chocolate é o campeão dessa “dieta forçada”. O preço do cacau está nas alturas, então as empresas estão cortando mais no chocolate do que em qualquer outro produto.

Dados mostram que a redução no tamanho dos produtos de chocolate tem sido de até 20% em alguns casos! Até os animais estão sentido! As rações de algumas marcas também encolheram cerca de 10%, de 1 kg para 900g.

Mas o que pode parecer algo simples, está indo muito além, já que algumas empresas estão enfrentando processos de R$ 60 milhões que poderiam ter custado muito mais, colocando em risco a saúde de crianças.

Isso porque produtos alternativos, com valor nutricional muito menor e potencialmente prejudiciais à saúde, se encontram lado a lado nas prateleiras e em embalagens muito parecidas com os produtos originais.

Mas isso é permito por lei?

Talvez você não tenha notado que alguns dos alimentos que você coloca no carrinho têm uma informação importante no rótulo: “Novo peso”, então se estiver sinalizado, isso é legal sim.

A medida é legal, mas as empresas precisam seguir as regras do Código de Defesa do Consumidor, que deixa claro que a mudança no peso e na quantidade do produto deve estar informada na embalagem em negrito, em letras maiúsculas e com contraste de cor em tamanho de fácil visualização pelo período de seis meses.

Se um pacote de bolachas passar a vir com menos unidades, essa quantidade deve estar informada de forma explícita. O mesmo vale para a mudança na fórmula. Como sucos que passaram a ser adoçados com maçã, a imagem da maçã deve vir.

Nos últimos cinco anos, o cidadão brasileiro perdeu 30% do poder de compra, diretamente relacionado à inflação.

A inflação em abril de 2024 foi de 0,37%, o que levou a uma inflação acumulada no ano de 1,95% até aquele mês. Nos 12 meses anteriores, a inflação acumulada foi de 3,23%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC).

Em tempos de crise, o consumidor tende a fazer escolhas mais conscientes quanto ao preço dos produtos. Mesmo que antes estivesse acostumado a comprar uma marca conhecida, agora ele passa a comprar uma marca mais popular e barata.

As empresas se veem no dilema de não perder seu cliente ou manter a margem de lucro. Diminuir o tamanho e a qualidade do produto é a forma que elas encontraram para não aumentar seus custos de produção e manter a competitividade da marca, mantendo sua clientela e maximizando seus lucros.

Mas a lógica por trás das empresas pode ser ainda mais tendenciosa, com quantidades menores, o consumidor é forçado a voltar mais vezes ao mercado, pois os produtos acabam mais rápido.

As compras de emergência no Brasil em 2024 cresceram 0,53% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período de 2023, segundo o estudo do IBEVAR.

É muito importante o varejista apoiar o consumidor nesse momento, como o Grupo Carrefour que está adotando uma medida inovadora para proteger os consumidores dos impactos da inflação. A empresa introduzirá placas de “reduflação” em produtos vendidos em suas lojas, começando pela França.

Essa iniciativa será aplicada a itens que tiveram uma redução em tamanho, mas tiveram seus preços aumentados pelos fornecedores. O objetivo principal é conscientizar os consumidores sobre as práticas de certos produtores de alimentos que tentam se beneficiar do cenário inflacionário.

A iniciativa do Grupo Carrefour de rotular produtos como “reduflação” é uma ação positiva que visa proteger os consumidores de práticas comerciais questionáveis de algumas indústrias. À medida que a inflação afeta os preços dos produtos, os compradores precisam de transparência para tomar decisões informadas.

Autor(a)
Michel Jasper

Trabalho no setor varejista há mais de 18 anos, com foco na área Operacional, Trade Marketing, Gestão de Pricing e Gerenciamento de Categoria. Já atuei nas maiores redes varejistas do País em cargos de gerência, supervisão, trade marketing, gestão de pricing e gerenciamento de categoria e merchandising.

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